Desde a Antiguidade, o Ser Humano fascina-se com os mistérios da Mãe Natureza: Ciclo da Vida, a Fertilidade e a Colheita, o Cultivo e o Nascimento na Alma do Feminino. Na qualidade de filhas da Natureza, nós, mulheres, vivemos o seu ritmo, seu fluxo, a maternidade, reproduzindo a criação. O eterno fluxo feminino: a infância, substituída pela adolescência, a jovem adulta à condição de mulher, a parturiente à mãe: a Grande Mãe.
A Grande Mae, figura arquetipicamente presente em variadas culturas, sendo responsável pela nutrição e à destruição de sua criação. A criação que está presente em nós e ao nosso lado, ao assumir de nossa fertilidade, no cultivo, na colheita e no nascer de uma Nova Vida, de um Novo Ser. Em nós, nascendo a partir de nós, parte de dentro de nós, chegando como criança a sua vida, a sua existência, ao início de um processo, de uma longa jornada. É a construção da história de um novo Ser humano. Após o parto a mãe se emociona ao ouvir o primeiro choro do recém nascido, o sopro divino, a sua primeira respiração nessa existência. Neste momento, a criança, está sob a barriga da mãe, com os olhos fechados, como que na imersão em seu mundo interior, do qual emergiu apenas, fisicamente. Neste exato momento, reina a totalidade: a Grande Mãe e sua Criança Divina. O milagre de uma nova vida principia misteriosamente em silêncio. A mãe aceita esse milagre em si e naquele que também se encontra adormecido sobre si. Aos poucos, o recém nascido abre seus olhos, olha para mãe e sorri. A mãe revive todo o milagre. Ela vê a profundidade nos olhos do pequeno Ser, que parece vir de longe, e ela pressente a existência, ali, de uma sabedoria que traz as experiências de toda a humanidade, se admira, então, ao intuir em Sua Alma Feminina vínculos com todas as mulheres que já viveram ou viverão a mesma experiência que apesar de universal, é muito única para cada uma. Talvez a mãe acaricie, cheia de veneração, o milagre de sua criação: a criança que, com a expressão de felicidade em seu pequeno rosto, fecha seus olhos para retornar por um breve momento ao lugar de onde veio: ao útero da Grande Mãe Natureza.
Sem o filho não existiria o pai, a mãe, e o homem não poderia viver essa dimensão de sua vida; a mulher não poderia experimentar o mistério da gravidez e da maternidade. Sem a criança, não existiria o produto da criação na imagem e semelhança à natureza. Enquanto houver a Fertilidade, o Cultivo, a Colheita e o Nascimento de um Novo Ser, sempre haverá uma Mãe que carregou sua Criança, durante seu cultivo sob seu coração e após sua colheita o carrega em seu coração. Assim, existirá, sempre, a Grande Mãe que nos acolhe, nos acompanha e nos admira ao sermos Mães, que na sua imagem e semelhança, carregamos ao colo, a nossa criação: a Criança Divina.
Carla Ramos é psicóloga, escritora e poetisa.
Quadro da artista argentina Perla Sar |
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