CHAVE MAIOR
Os rios entendem
o silêncio dos peixes,
assim como as cachoeiras
entendem o barulho
e a turbulência das águas.
O outono entende os frutos,
e a primavera, a perda
das suas flores.
assim como o amarelo
se aceita, como tempo vencido,
e se vê feliz no primeiro verde
que do chão surge...
O céu compreende as estrelas
no mais distante em que se achem,
e assim as pendura no mais azul,
com todo cuidado.
As pedras apertam os rios,
os maiores e os menores,
sem distinção,
que correm e escorrem,
se torcem e retorcem.
Mas não os impedem
da sua louca busca de descanso,
na plenitude do grande mar.
Fotografia de Isabel Furini - Rose Garden, Califórnia |
entendem as borboletas,
e não as ignoram
quando, no mais longe,
satisfeitas, vão embora,
em bandos ou em duplas,
duas a duas, refletidas,
no espelho do ar...
As rosas aceitam os espinhos,
simplesmente para que possam
se abrir displicentemente seguras,
e assim se protegerem e beberem
do orvalho que corre entre eles,
para se tornarem incomparáveis,
em qualquer jardim,em qualquer lugar.
Os pássaros
entendem as alturas,
compreendem os bandos
e o porquê dos ninhos.
Aceitam o vento e a chuva,
e o inverno também.
Só não entendem a força
dos chumbos
que lhes rasgam o peito
Só os homens
não se entendem,
nem se aceitam,
nem se compreendem.
Sabem fazer sua solidão,
sabem criar seu silêncio,
ou apenas se armam,
se desamam, se dilaceram.
E por pouca coisa
inventam uma guerra,
botando por terra
uma coisa chamada amor,
trancando portas,
camuflando-se,
jogando fora as chaves
de um mundo melhor!
Jaime Vieira
AVIPAF - Cadeira 27
Jaime Vieira |
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