Jandira Zanchi: Mandala - e outras poesias






Como não sonhar com
a eternidade
se somos o vento e o
sal da natureza.....

MANDALA


Núbil, dúbia de loureiros
e louvadas raízes de lis
caibo em qualquer
                  contramão
em vias de erguer-se
com mácula e luz

mandala esquecida
essa espada lume
corcel de curvas
            calientes
mural de lenta incerteza

nas mariposas lilases das
tardes curtas de rompimentos
instantes inquietantes
arquejantes de alucinações

                        enquanto que deus
                        é uma margem
                        sem imagem
                        o nada dourado
                        dos profetas
                        incultos
                        e sem arestas.

                       Jandira Zanchi

Arte digital de Isabel Furini
LADRILHOS VERMELHOS

Eu sonho ladrilhos vermelhos
que faíscam as fábulas de outrora
uns anos preenchidos de válvulas
escapes por entre os poemas
das sílabas
ouvia nas paredes rumores de vento
enquanto as serpentes da alma
ondulavam famintas solidões
e esquecia-me da morte
essa branca nuvem de reticências
que abençoa a todos nós...

humilhavam-me trevas de esquecimento
o desdém das horas impunes
que vociferam suas espadas de espátulas
vesgas e enviesadas
uns anos maltrapilhos que levaram
os nódulos e enfrentamentos para tão aquém
que nada, além, se me permitiu,
que o vácuo da inesperada e vazia
liberdade......

os seres continuaram
uns espectros sem nome
          fornidos do
marte rosa de furta-cor
solene na orquestração
da vontade.

Jandira Zanchi




CARAVELAS


Movimentos? quase só
os conheço aos poucos,
dos incomensuráveis
me poupo em cada pouso
para amar caravelas

antes de chegar-me
assumo a distancia

o espelho da nave
era sombra e, excluído,
fez-me crer que mais graves
são as manhãs de domingo
quase sempre amigas
dos papéis em branco
das recordações recortadas
dos múltiplos feriados.


Quando se surpreende o móvel,
no movimento ou no esquecimento?

Quando se forma a forma,
na correção ou na divagação?
são infinitas as maledicências
da matéria, as fazem de forma
a estarmos em constante humilhação
da derrubada dia e ponto
noite e selo
nas armações de suas venturas
mudadas de tática e conteúdo
à piragem da Nave.

Jandira Zanchi



ENGRENAGENS

Calmaria, sem suor, na madrugada lisa que avança, quase esquecida, com pequenos  sustenidos - brandos e mancos –
documentados  e arranjados
nos passantes  de feira e beira
assados e criados no sol dos dias céleres e vivos
rodopiando vidas horários engrenagens
cá e lá um sorriso e namorados se esquentando no parque e na praça nos bancos de vadiagem

quase sem olhos entre margens e fados 
deixando pequenas conchas de favores
 - nem sequer pedidos -  aos ares e fumaças
do correr do dia vida e rotina ventos e tenazes, enquanto, na fila dos desempregados, mãos estreitavam cabeças e alguns olhos
– aí sim – expressivos para latentes súplicas
perdidas ardidas temidas encolhidas submetidas
sem a lira leve frouxa dos desatinados que colhiam - às 13:00 desse sábado -as sobras distribuídas
das frutas e favas da feira no átrio

desejos e palavras e vantagens de alguns sonhos que mirei, se ainda fosse possível colher
novidades e milagres

mas, parece que é bento e suave o nascimento
e se vertigem é a alma e a necessidade  e
o perfil e o estado e correm pétalas e o líquido
e alguma santidade.

Jandira Zanchi

Jandira Zanchi
Jandira Zanchi é ficcionista, poeta e editora (singularidade). Atuou no magistério no ensino de matemáti­ca e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Uni­versidade Agostinho Neto - Facul­dade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba por cerca de dez anos esteve na FAE - Bussiness School. Publicou Egos e Reversos (sin­gularidade) A Janela dos Ventos (singularidade), Área de Corte (Patuá), Gume de Gueixa (Patuá), Balão de Ensaio (Protexto).Edita o portal Amaité poesias & cia. e integra o Conselho con­sultivo de Poesía em Tránsito.

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