Entrevista com o poeta Tiago Vargas




Nosso entrevistado é o poeta, escritor, professor e colunista literário Tiago Menezes de Vargas. Nasceu em Cachoeira do Sul, 18 de maio de 1982. É colunista literário/JP Literário-Jornal do Povo. Professor de língua Espanhola formado pela UFPEL. Especialista no Ensino da Língua Espanhola e uso de novas tecnologias pela Universidade Estácio/RJ.
Livros publicados:
Azedume (2013) – Editora Nelpa; Todos os silêncios do Mundo (2015) – Editora Ixtlan; Outro eu (2019) – Editora Ixtlan
Participação em diversas coletâneas, nacionais e internacionais, entre os quais os Poetas do Vale, mais antiga plêiade de poetas em atividade no Brasil com publicação regulares, ainda que esporádicas.
A primeira publicação dos poetas do vale, data o ano de 1976. São dez edições. Vargas atuou como organizador na 9 ª e 10 ª edição.



- Dos diversos gêneros literários, você escolheu a poesia. Quando se descubriu poeta?
Sou um leitor contumaz. De todos os gêneros, romance, fábula, contos, crônica, ensaio, artigo, poesia... No entanto, escrevo porque sinto necessidade de me expressar, dialogar com minhas vozes internas, reverberar sensações que inquietam a alma. Talvez nesse sentido a poesia preencha melhor as lacunas existenciais. Na verdade acho que despretensiosamente a poesia me escolheu.


- Quais autores influenciaram seu estilo literário?
Tenho um estilo conciso, minimalista de criação. Não gosto de métrica, do poema matemático, de preceitos na criação artística. Escrevo basicamente sobre as singularidades do cotidiano, sobre coisas simples como por exemplo eternizar num poema o cheiro de um instante. Gosto de temas discretos, como a passagem do tempo, silêncio, amor, morte, solidão, nuances psicológicos... Amarras da construção linguística e semântica, brincar de dizer, esconder os sentidos. As influências são várias. De Quintana à Silvestrin. De Neruda à Leminski. Manuel de Barros, Hilda Hilst, García Lorca, Caio Fernando Abreu, Lara de Lemos, Ginsberg, Dércio Braúna... Dos clássicos aos contemporâneos.


- Comente sobre seus livros e seus autores preferidos.
Toda vez que publico um livro sempre tem uma ideia de ser original, invulgar. De se reinventar. Azedume, meu livro de estreia é uma publicação bilíngue, foi escrito nas línguas portuguesa e espanhola. Todos os silêncios do Mundo surgiu inesperadamente como um livro temático. O silêncio é onipresente em boa parte dos versos. Outro eu manifesta-se como um livro espelho. Representa um ciclo. Nele várias influências estão registradas, explícitas ou implicitamente. Nelson Rodrigues, Dalton Trevisan, Poe, Sartre, Rupi Kaur, Gullar, Galeano, Roberto Piva, Cortázar, Kafka... a capa é uma homenagem. Os moinhos de vento são uma referência a Cervantes. Fazer arte hoje em dia, independente do gênero é ser meio Dom Quixote. Em resumo, Outro eu, é um liquidificador de citações. Retrata outro mim, muitos de nós.

- Tem alguma técnica para construir seus textos? Inicia com uma ideia, com uma palavra, com uma imagem, etc?
Nenhuma técnica ou ritual específico. Sem ponto de partida. Apenas sigo meus impulsos, meus instintos.
- Fale sobre seu livro "O outro eu".
Outro eu é meu terceiro livro. Representa um decurso de fazer poético. Esteticamente penso que está lindo, com boa qualidade gráfica, acabamento, lombada costurada, laminação de capa, enfim... O leitor proficiente vai inferir nos detalhes, perceber que trata-se de uma obra contextualizada. Nas referências literais e na estética.
Os textos de apresentação e prefácio foram escritos por dois amigos poetas. Mauro Ulrich, editor do suplemente cultural do Jornal A Gazeta de Santa Cruz do Sul e o poeta cearense Maílson Furtado Viana, autor de A Cidade, Prêmio Jabuti 2018 de melhor livro do ano e melhor livro de poesia.
Os poemas retratam retratam a vida de um modo geral, infância e morte, melancolia e nostalgia, afetos e ressentimentos através de metáforas sutis, retraídas.


- Já recebeu e-mail de seus leitores falando sobre essa obra?
Sim, muitos feedbacks e nos mais variados formatos e mídias/suportes. E-mail, facebook, whatsapp. Até cartas.

- O que representa a Poesia na sua vida?
A poesia está em tudo. Num toque, num olhar, num gesto. Numa cor, num sabor, numa imagem. Um cheiro, silêncio... Vivemos em uma época onde tudo é urgente. Sempre cercados de expectativas. Tempos líquidos como sugere Baumann. A poesia, assim como outros produtos artísticos invertem um pouco esta lógica pachorrenta e burocrática. Quebra essa paradigma. Como dizia Ferreira Gullar: “A arte só existe porque a vida não basta’’.


- Fale se seus projetos literários para 2020.
São muitos projetos. O principal deles é publicar no segundo semestre um livro de mini-contos. Está praticamente pronto. Ainda sem título.

- Sua opinião sobre o trabalho do poeta.
O poema surge no momento anterior, na ante-sala da escrita, no desvão dos pensamentos; entretanto não existe poesia sossegada, tranquila.
Sua origem é a vertigem, a sede, a inconveniência, a insônia, o caos impiedoso, a melancolia que partilha incêndios.
Do advento da dor, surge à luz, a súbita reflexão, contemplação.
A poesia sui generis-espécie laico de milagre.

Gostaríamos de ler um poema de sua autoria.

Enfim sós
Sou teu
Em prosa e verso
Sem rimas.
Raio de sol,
Alma em flor
Frescor.
Sentido.
Nas vestes da saudade, exclusividade
Minuciosa gestação de promessas.
Textura de coisa viva,
Virtude de raros.
Amor genuíno,
Poema na página em branco a pulsar.

Tiago Vargas






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