Estrela
quando amei aquela estrela
deixei o cinza no fundo da gaveta
sorri colorido
e foram verdes minhas mãos
em seus olhos vi o universo
espalhado em folhas
numa muda de alfazema
e meus cabelos ventavam alecrim
em seus beijos desenhei a pétala
o jardim cantava pimentas
num lençol de algodão
e os quadros se firmaram no ar de nossos poemas
tentei alcançar aquela estrela
nas receitas que não cozi
nas rendas que acabei ao tecer fechaduras
e meu corpo já não me comporta
nem as folhas
nem as asas
quando amei aquela estrela
virei pó
Fla Quintanilha
O poema "Estrela" recebeu Menção Honrosa no XVIII Concurso “Fritz Teixeira de Salles” de Poesia – Categoria Geral
Amanhecimento
o dia hoje
não amanheceu
os olhos não
sem buscar a luz
ouviram apenas o fogo se apagar
na quebra do dom e dádiva
as portas se confirmam
aferrolhadas
e o não querer a luz
firma o rito
dos vermelhos que amarronam
sem escuta nem carícia
deixa girassóis à míngua
morrem
secos
olhar e zelo
não há mistério
agora
sem leis
ou promessa que se cumpra
de abandono morrem
sonhos quiabos cogumelos
morrem todas as teses
pela vastidão de um olhar
que manteve ilusão
no escuro desse quarto
Fla Quintanilha
Poema selecionado entre os primeiros colocados no Sarau Brasil - 2019
Águas de janeiro
Te vi pequena aquele dia
Em que a lua não apareceu
E os livros consumidos
Pequena
ocupando aquele mesmo papel
E o varão que a protegia
ofuscado pelo orgulho
Fez-te pequena e sem sorriso
Pois não era aquele que sempre ria
a folha de mais um dia
o cumprir de outro conto que não chegará a poema
Te vi pequena
um suspiro
um adeus
e pena
Fla Quintanilha
Flavia Quintanilha: Poeta e filósofa, nascida em Maringá, mora atualmente em Londrina (PR). É membro colaborador do Instituto de Estudos Filosóficos na Universidade de Coimbra, editora associada na Philosophy International Journal e conselheira de cultura na área de literatura em Londrina, onde idealizou o movimento Artistas Livres. Publicou os livros Aporias da Justiça (Novas Edições Acadêmicas, 2015) e A mulher que contou a minha história (Kotter, 2018). Compõe as antologias Sarau Brasil 2019, Prêmio Poesia Agora – Inverno e Antologia Ruínas (Patuá, 2020). Tem poemas publicados na Revista Literatura & Poesia e na Revista Torquato.
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