Nosso entrevistado é o escritor Jean Narciso (Biografia de 4 ou 5 linhas e foto).
Jean Narciso Bispo Moura, poeta, editor da Literatura & Fechadura, reside em Itaquaquecetuba - SP, autor de 6 livros de poesia, o primeiro foi “A lupa e a sensibilidade”, editora Casa do Novo Autor, 2002 e o mais recente Dentro de nadir habita o zênite, “editora Folheando”, publicado em 2018.
Quais são seus autores e seus livros preferidos?
Eu aprecio todos os autores que leio, penso que todos têm uma revelação ou ensinamento para nos passar. Mas confesso que o meu fascínio é a poesia, gosto bastante de Murilo Mendes, pois ele arranca da linguagem a face não revelada. Acho isso bastante significativo. Também gosto de Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos, Tomás Antônio Gonzaga, Gregório de Matos, Jorge de Lima, Ferreira Gullar, Manoel de Barros, Adélia Prado, Cecília Meireles, Florbela Espanca, Mário de Sá-Carneiro, Cesário Verde, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e seus heterônimos, entre outros. Além de um número expressivo de poetas contemporâneos. Autores que escavam e fuçam em demasia, laboram... Eles têm sempre o meu maior apreço.
Quando começou a escrever poesia? Algum livro, alguma pessoa ou acontecimento o motivou para começar a escrever?
Lembro que ainda criança gostava de elaborar histórias, dar sentido diferente às coisas. Mas acho que isso se afinou no ensino fundamental, no inicio dos anos 90, nesta época recebi um importante incentivo das professoras Regina Célia e Claudia Paixão, ambas de Língua Portuguesa. Elas foram pessoas muito decisivas nesta trajetória, pois acreditaram na possibilidade de materializar os meus escritos em um livro.
Você reconhece a influência de algum autor em seu estilo poético?
É quase impossível não ser influenciado, mesmo de forma inconsciente ela aparece na tessitura do texto. É preciso de muita tenacidade, apropriação, seriedade no labor e ofício para aceitá-la. De fato, nós somos influenciados e de algum modo também influenciamos. A poesia quando nos afeta, ela desperta janelas da imaginação e faz pulsar novas escritas. Os autores acima citados entre tantos outros dançam nos meus olhos e compõem diretamente ou indiretamente o mapa de minha escrita.
Como surgiu a ideia do Literatura & Fechadura? Fale um pouco sobre esse projeto.
Esta é uma pergunta constante que me fazem. Digo que a fechadura carrega o símbolo da possibilidade de guardar tesouros, mas no fundo é uma antítese para abertura de espaços ainda tão fechados. Eu mesmo já tentei publicar em algumas revistas digitais brasileiras conhecidas, que vocês nunca viram o meu nome. Entretanto sequer tive o privilégio de uma resposta, percebo às vezes que o nome e prestígio do autor, o ajuntamento que o consagra, antecipam-se a priori a toda leitura atenta e séria.
Qual é o púbico alvo da revista?
Percebo que os visitantes, em sua maioria, são autores do gênero poesia e pessoas interessadas no tema. Mas também há jovens e pessoas de faixa etária diversa, de toda parte do Brasil e Exterior que se identificam com o nosso trabalho de divulgação literária. O nosso compromisso não privilegia nenhum gênero literário e está aberto para leitura do texto encaminhado, não ficando seduzido apenas pela lapela.
Qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?
Espero tornar a Literatura & Fechadura uma importante vitrine. Tornar a revista digital ainda mais conhecida e democrática, propiciando assim um ótimo espaço para bons textos.
Como é seu processo criativo? Para iniciar um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma vivência? De acontecimentos?
A minha escrita é cada vez mais rara, baseada em lampejo, aparece em instantes inusitados, a partir dele encaixo os versos e constituo o poema que se revela paulatinamente, eu recorto excessivamente e fico com a sensação incômoda de sentir o texto num infindável inacabamento. Procuro palavras, uma iluminação que distancie o verso do roteiro comezinho, acho que alguns vocábulos quando mal empregados, diminuem a potência do texto e o conduz para lugares comuns. Das boas escolhas, ideias e arranjos fazem emergir uma boa poesia.
Na sua opinião a internet incentiva a leitura de livros?
A internet colabora para o processo de captação de novos leitores, principalmente, quando o indivíduo tem alguma inclinação ou desejo pelo saber. Mas penso que independente do portador, o livro impresso não será substituído definitivamente. Ele terá vida longa nas relações entre leitor e a prática de leitura. O livro tradicional tem um quê, feitiço, é mais do que a coisa em si, parece habitar áreas importantes de nossa subjetividade.
Neste ano de 2020, com a pandemia, você pensa que será um bom para a poesia? As pessoas ficam de quarentena e tem mais tempo para ler e escrever, mas como incentivar o gosto pela poesia?
A maioria das pessoas está afetada emocionalmente pela pandemia e pelos números escabrosas de mortes que nos assombram cotidianamente. Além disso, boa parte da população brasileira está lutando pela própria subsistência e de seus familiares. No entanto a literatura é a máscara de oxigênio que precisamos utilizar nestes dias que parecem rarefeitos.
Estamos no segundo semestre de 2020, quais são os seus planos literários para este ano?
Prossigo com o Prêmio Literatura & Fechadura, idealizado por mim, contando com a divulgação na internet de muita gente que abraça o projeto. Não posso olvidar dos colaboradores que atuam na comissão do júri e da editora Folheando, por intermédio da pessoa do editor Douglas Oliveira, de todos que contribuem para esta ebulição...
Em 2021 penso em soltar um edital para livros publicados que oferecerá um troféu ao melhor livro de Poesia. No mais continuo no labor, superando as dificuldades cotidianas que tentam nocautear-me.
Prossigo no ringue e nos rounds.
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