Marta Cortezão: Dois poemas

 

 Amor ad æternum

 
Meu coração é alado.
Não te preocupes,
estará sempre ao teu lado.
Na distância, por ti, velará
é servo do teu amor.
Em oração suplicará
tua proteção ao Nosso Senhor.
Não temas as adversidades!
O mundo gira, favorecendo
às almas de luz
que prezam a honestidade.

Meu coração vitimado
por Cupido
a ti venera noite e dia,
filho querido!
Corre-me nas veias
amor, puro amor que,
em delicadeza, bombeia
o dom da vida
a este amante coração
acorrentado e submisso
à eterna sina
de amar-te por devoção.

Fotografia de Isabel Furini

Da janela

A janela alerta
sobre a vida
que lá fora passa
Um cartaz desbotado
dos dias, das horas
anuncia “fique em casa”
as letras, sem força, a dizer
que tudo ficará bem
Meus olhos
já cansados
de lê-lo a diário
se perdem
       à procura
           do
              ponto
                   final
.
.
.
Pela rua vazia
o silêncio caminha
cego de vento
e vai se empapar
nas roupas do varal
O sol a pique
alcançou metade
do dia cansado
e lambeu
mais um cadinho
       da cor
          do
            ponto  
                final
.
.
.
que não se vê
que não vem
nunca
não. 

Marta Cortezão

MARTA CORTEZÃO é amazonense radicada na Espanha desde 2012. Escritora, poeta, ativista cultural, professora, tradutora, gestora de lives, colunista na "Revista Ser MulherArte", articuladora do Mulherio das Letras Espanha e, recentemente, criou, em parceria com a escritora Roberta Gasparotto, o blog “Feminário Conexões”. Participou de diversas antologias nacionais e internacionais. É autora dos livros de poesia "Banzeiro manso" e "Amazonidades Poéticas" (no prelo)