ESCUTA
Deixa o silêncio falar.
Escuta.
Guarda tua boca
para provar a Doçura.
(Afonso Guerra-Baião, a partir da versão em inglês de poema de Jalal Rumi)
NO SILÊNCIO
pelo silêncio adentro pelo verde
silêncio com a terra em branca orla
você (beije-me) vai embora
pela manhã afora por menina
manhã com o universo em aura morna
(beije-me) você vai embora
por luz do sol acima pela linda
luz do sol com o dia em plena hora
você vai (beije-me embora)
pela memória abaixo pelo rio
de memória em memória eu vou-
me (beije) embora
(Afonso Guerra-Baião, versão livre de um poema E. E. Cummings)
Fotografia de Isabel Furini |
BRINCANDO DE ESCONDER
se você colocar a samambaia
debaixo de uma pedra
amanhã ela estará quase invisível
como se a pedra tivesse incorporado
sua matéria
e se você puser sob sua língua
o nome de alguém que você ama
numa cápsula de silêncio
você verá que ele vai tornar-se seiva
e suspiro
oculto nos hiatos das palavras
ninguém saberá que alimento
lhe dá o seu sustento
(Afonso Guerra-Baião, versão livre de poema de Naomi Shihab Nye)
ARQUEOGRAFIA
cintila no jardim desse silêncio
a ave do paraíso; ela voa
com minhas penas, canta suas loas
com os meus blues e para além do tempo
de um sonho, com o bico de uma pluma
fura meus olhos, vaza a miragem
do corpo luminoso, a imagem
recôndita da musa que, na bruma,
vem inspirar-me esse canto rouco
que conchas guardarão no mudo e mouco
escoadouro do jardim suspenso,
no fosso onde encontra-se o tesouro,
perdido para sempre como o rosto
a me sonhar no horto do silêncio
Afonso Guerra-Baião
(Do livro SONETOS DE BEM-DIZER / DE MALDIZER. Mariana: Aldrava Letras e Artes, 2019).
Afonso Guerra-Baião é professor e escritor. Publicou recentemente SONETOS DE BEM-DIZER / DE MALDIZER, que pode ser adquirido através da Amazon, da Estante Virtual ou com o autor em suas páginas no Face e no Instagram. Publicou pela Amazon duas narrativas em ebook: O INIMIGO DO POVO e A NOITE DO MEU BE.
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