Nossa entrevistada é Ana Valéria Fink. Nascida nos anos 60, paranaense, já morou nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Bahia. Dentista, mãe de cinco filhos, escreve desde a adolescência. Já madura, cursou Letras e, além de trabalhar como revisora, pôde se dedicar mais à literatura. Como poeta, participou de algumas antologias, como a da In-finita, de Portugal, e publicou MOSAICO, em 2018, pelas Edições Marianas, um coletivo de mulheres escritoras do Paraná. Contista, foi classificada no V Concurso CEPE de Literatura Infantil com o conto HISTÓRIA DE UMA BOCA, publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (2015); seu conto “Meio a meio” foi o vencedor, na categoria, do 9º Concurso Literário Celso Sperança, de Cascavel, Paraná, em 2018; e participou também de algumas antologias. Como cronista, mantém a página “Cronicália”, no Facebook; em 2015 publicou REGANDO OS JARDINS DO SENHOR E OUTRAS CRÔNICAS (Ibicaraí: Via Litterarum), uma coletânea de crônicas variadas. E agora, em 2021, saiu, pela Editora Penalux, seu segundo livro de crônicas, CORNUCÓPIA.
Ana Valéria Fink |
Segundo a sua percepção esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirada?
R. Há dois aspectos, distintos e antagônicos: por um lado, o isolamento e confinamento obrigatórios e necessários oportunizaram um tempo maior para nos dedicarmos à literatura; por outro, a preocupação com a situação mundial, o número de mortes no Brasil, criam uma atmosfera pesada, o que coloca em baixa todo ânimo. Confesso que ando lendo muito mais do que escrevendo.
Quando iniciou o seu interesse pela Poesia?
R. Aos quinze anos, quando tive um professor de Português que era escritor, também poeta, cujas aulas, mesmo quando o assunto era gramática, tinham sempre como base algum texto literário. Ali fui apresent(e)ada à poesia, e comecei a balbuciar os primeiros poeminhas. Por influência desse professor fui fundo em Drummond, Vinícius, Gullar, Nélida Piñon, Adélia Prado, Pessoa...
Você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?
R. Não, não gosto muito. A leitura de poemas pode ser interessante, mas a declamação, especialmente com alguma dramaticidade, não me agrada. Lembro de que, quando ainda cursava Odontologia, fui vencedora de um concurso de poemas da universidade; quando o poema foi enfaticamente declamado por uma outra pessoa me senti extremamente desconfortável e constrangida... a entonação que eu havia dado ao poema não era aquela, absolutamente! E considero de bastante importância o impacto visual do poema, então prefiro a leitura silenciosa.
Vamos falar sobre títulos. Na sua opinião um poema precisa de título ou considera o título supérfluo? Como faz para escolher os títulos dos poemas?
R. Já houve tempo em que não dava título aos meus textos. Meus poemas são geralmente curtos, e eu não atentava a isso. Mas fui bem aconselhada a não “desperdiçar” essa chance de dar um toque a mais na expressão. O título traz a tônica do texto, o anuncia e o complementa. Quando organizei a minha primeira publicação de poemas, MOSAICO, batizei-os todos!
Ana, alguns falam que a Poesia não tem utilidade prática, que não serve para o mundo de hoje. Qual é a sua opinião?
R. Essa é uma discussão até antiga, a utilidade da poesia. Sartre já foi bastante hostilizado por seu posicionamento a esse respeito. E, no senso comum, existe uma aura misteriosa em torno do que é um poeta, ou no que ele seria “diferente”. Essa percepção vem sempre acompanhada de uma ideia preconcebida de que o poeta vive “no mundo da lua” ou coisa parecida. Essa foi, por exemplo, uma preocupação de minha mãe quando venci meu primeiro concurso literário: “Mas você não vai esquecer da vida pra virar poeta, né?” E olhe que ela era uma pessoa com bom conhecimento das artes, era cantora lírica! Acredito que a Poesia, como todas as formas de expressão artística, tem a função ou capacidade de nos humanizar mais a fundo. E, nesse sentido, ser também ferramenta para engajamento político.
Se você tivesse que escolher um poema de sua autoria que represente o seu estilo, a sua voz poética, qual escolheria?
A LUA E EU
a lua e eu minguantes...
só essa
a semelhança.
de resto,
nada coincidente.
a lua rege as marés,
a maré me leva.
a lua está salpicada
de desertos secos
e eu afogada
em mares salgados.
a lua ativa a seiva
das plantas,
e eu nem minha própria essência
controlo.
a lua brilha,
lua cheia,
eu sempre minguando.
devo parecer mais com seu lado oculto.
Em 2021 continua o problema da pandemia. Quais são os projetos para este semestre?
R. Saindo agorinha pela Penalux meu segundo livro de crônicas, CORNUCÓPIA; estamos empenhados na divulgação e lançamento. Já tenho pronto um novo livro de poemas, naquele estágio mais “chatinho”, o da espera por editora... E também estou às voltas, mas sem pressa, com a escrita de meu primeiro romance.
Grande, Ana Valéria!Cavaleira andante do mundo da sensibilidade, do mundo da Literatura! Alan
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