PREFÁCIO
Afonso Guerra-Baião*
A epígrafe ideal para uma antologia poética é a máxima de Lautréamont: “A poesia deve ser feita por todos, não por um”. Isso parece contrariar a metáfora rosiana que caracteriza o trabalho de criação textual como um capinar solitário. Na verdade, esse aforismo remete à condição de incompletude, de vir-a-ser, constitutiva tanto do autor quanto da obra. Por coincidência, o poema de Amaury Nogueira, que abre esta antologia, diz assim:
Clique Aqui para Download do Livro em Formato PDF
“Ser inacabado / Sou construção / nas palavras... / alicerce em letras / paredes em
páginas, / sou este inacabado / a cada dia precisando / ser retocado...”
De forma que, já de saída, a coletânea “MELHORES POEMAS DE 2021” nos coloca diante da incompletude essencial do autor, bem como do caráter dialógico do texto poético. O ser em construção que somos, enquanto sujeitos empíricos, precisa, bakhtianamente, que o olhar do outro nos mostre aspectos de nós mesmos que escapam ao nosso ponto de vista. Assim também o eu- lírico, que nos representa no texto poético, constitui-se como autor-modelo na medida em que é capaz de pressentir seus leitores-modelo bem como de constituir, borgeanamente, seus precursores. Para ser um escritor é preciso ser um leitor. O texto se constrói na intertextualidade, no diálogo entre os autores, na comunicação dos textos entre si. “A poesia de um poeta está sempre impronunciada”, diz Heidegger. “Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo.”
Uma antologia de poemas é a materialização da ideal “conversa poética entre poetas”. Nesse diálogo a poesia se tece como, no canto dos galos de João Cabral, a luz que inaugura o dia
Através da antologia “MELHORES POEMAS - 2021”, organizada por Isabel Furini, brilhante poeta e incansável divulgadora das letras, nós, leitores, temos a felicidade de participar desse evento de iluminação.
*Afonso Guerra-Baião é poeta, escritor e professor.
Comentários
Postar um comentário