PAPAI NOEL
Sonhei que Papai Noel
era de verdade:
vinha pelas ruas da cidade,
empurrando um carrinho
cheio de caixas de papel
– não trazia presentes
nem para ricos
nem para pobres –
(ele, de fato,
de pés descalços no asfalto,
na cabeça um boné vermelho desbotado,
sua calça era suja e rasgada,
sem barriga, não tinha espaço para comida,
a camisa era velha e sem botão.
Sonhei que Papai Noel
era de verdade:
barba branca por fazer
com o peso da idade,
nas costas o pesadelo da realidade,
um olhar distante de saudade,
e a tristeza fazendo da calçada
uma cama disfarçada.
O trenó do Papai Noel de verdade
era puxado por seus próprios braços desgastados,
e uns cinco cães abandonados o seguiam,
feito renas obedientes,
pelas ruas e esquinas da cidade.
O Papai Noel do meu sonho,
é bem verdade,
ganha (perde) a vida
juntando o lixo da cidade.
Eu gosto mais,
muito mais,
do Papai Noel do meu sonho
porque ele é sincero,
é de verdade,
acorda cedo
(ou nem dorme),
e não finge que desce
pela chaminé da casa do José,
nem engana que deixa presentes
embaixo do pinheiro do João,
mas alimenta seus filhos de verdade
com as moedas distraídas da civilização.
Nic Cardeal
Nic Cardeal é catarinense radicada em Curitiba/PR, graduada em Direito, é autora de ‘Sede de céu – poemas’ (Penalux, 2019), e aguarda a publicação de seu próximo livro, no prelo. Publicou textos em 43 antologias e coletâneas. Faz parte do movimento Mulherio das Letras. Seus escritos estão compilados no Facebook: “Escrevo porque sou rascunho”. Possui textos publicados em diversas revistas e blogs eletrônicos. Também publica, como autora e colaboradora, na revista eletrônica ‘Revista Feminina de Arte Contemporânea Ser Mulher Arte’.
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