Canto a céu aberto
Lena Jesus Ponte
a canga dos bois retiro os antolhos dos cavalos das
órbitas os planetas das represas toda água
morte aos barbantes e fitas cordas muros celas
grades gaiolas e galinheiros comportas portas fechadas
fossos cercas e muralhas
solto freios nós desato até o não desacato o metro
não é cabresto das rimas não sou escrava
poema sai da cadeia da estrofe que asfixia inseto livre
da teia ave no papel do espaço
bate asas a poesia
Palavras para as palavras
Wanderlino Teixeira Leite Netto
Ah, as palavras, as palavras...
Servem à ira e à mansidão,
à razão e aos casuísmos.
Geram pontes e abismos,
prestam-se ao sussurro e ao libelo,
são bálsamo e são cutelo.
Armas sem travas, as palavras,
quando ditas de modo mordaz.
Instrumentos de paz
de quem se apraz de usá-las para tal fim.
São assim as palavras:
lava incandescente e mel,
fel e estrela cadente
(queimam e adocicam,
amargam e refulgem).
Ficam à espera do tempo exato
(semente a germinar no ventre da terra).
Surgem também num só ato
(enchente a despencar por entre a serra).
Tímidas e agressivas,
ponderadas e intempestivas,
inconsequentes e profundas,
crentes e profanas,
prudentes e afoitas,
indomáveis e escravas.
Ah, as palavras, as palavras.
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