Filipe S. Fernandes |
Nosso entrevistado é Filipe S. Fernandes
Nascido em 1999. Licenciado em Ciência Política, pela Universidade do Minho, onde desempenhou diversas funções académicas, e Mestre em Ciência Política, pela Universidade de Aveiro. Foi bolseiro de investigação na Unidade de Investigação Governança, Competitividade e Políticas Públicas (GOVCOPP). Conta com participação em alguns projetos de investigação nacionais e internacionais, assim como experiência em gestão de ciência. É também autor do estudo “Diferentes formas de participação em prol do Desenvolvimento”, ao abrigo de uma organização não-governamental. Politicamente, tem experiência nas áreas de assessoria, comunicação e campanhas eleitorais. As suas principais áreas de interesse são as campanhas eleitorais, a comunicação política e os sistemas partidários.
Como surgiu a ideia do livro?
O livro surgiu no âmbito da minha investigação académica para a minha dissertação de Mestrado em Ciência Política. Sempre tive um enorme interesse nos partidos políticos e, em especial, pelas campanhas eleitorais. No meu entendimento, é absolutamente essencial compreender os partidos – como se estruturam, quem os compõe, o que defendem, como atuam, como comunicam, para quem comunicam. Isto porque os sistemas partidários, nomeadamente os da União Europeia, assentam em estruturas de múltipla competição, com diversos partidos constituídos e a apresentarem candidaturas aos demais níveis eleitorais.
Os partidos, enquanto atores políticos diretos, não são apenas meras “marcas” que servem de plataforma para indivíduos que procuram seguir uma carreira política. São estruturas organizadas e hierarquizadas, com (mais ou menos) competição interna, mas, definitivamente, com bastante competição externa. Neste sentido, sempre me interessou compreender as suas relações com os outros partidos. Estas relações interpartidárias têm um espaço privilegiado nas campanhas políticas. Há, pelo menos, duas questões que saltam logo no imediato: Quais as dinâmicas que levam os partidos a optar por salientar determinados assuntos nas suas campanhas? Como é que os partidos influenciam as campanhas dos seus adversários? Esta é a primeira vertente da origem da ideia do livro.
Em segundo lugar, temos, naturalmente, a vertente das eleições europeias. A evolução da União Europeia. Estas têm tido um desenvolvimento interessante, na medida em que as circunstâncias nas quais se desenrolam encontram sempre novas circunstâncias e as adversidades que delas advêm. Por aqui, o meu propósito passava, portanto, por analisar os comportamentos partidos ao abrigo destas mesmas circunstâncias, ricas nos tipos de temas que podem ser colocados a debate e o desafio que tal pode causar nos partidos e na definição das suas estratégias de campanha. Escolhi as eleições europeias a partir de 2009 também por coincidirem com o desenvolvimento e crescimento eleitoral de novos e pequenos partidos. O número de partidos que conquistaram um lugar nos seus respetivos parlamentos nacionais tem vindo a aumentar. Da mesma forma, partidos que nunca antes tiveram experiência governativa, passaram a tê-la, com a entrada em governos de coligação ou mesmo liderando governos. Tal torna-se particularmente relevante uma vez que até no Parlamento Europeu assistimos a este crescimento.
Assim, reconhecendo esta realidade, torna-se, a meu ver, imprescindível conhecer e compreender o comportamento dos partidos políticos nas campanhas eleitorais.
Qual é o objetivo de publicar esse livro?
O objetivo deste livro passa por ajudar a compreender a realidade que descrevi acima. As eleições europeias, não raras vezes, são analisadas de forma fugaz, sendo mais relevantes aquilo que os interessados consideram poder extrapolar dali para quaisquer eleições nacionais dos diversos países. Não é particularmente comum haver análises aprofundadas ao comportamento ou mesmo posições dos partidos políticos em relação a temáticas europeias. A perceção social é de que as eleições europeias não afetam o dia a dia das pessoas. O cidadão comum poderá não ter, legitimamente, conhecimento da relevância das matérias legisladas a partir do Parlamento Europeu, assim como da relevância das ações das restantes instituições europeias, como a Comissão Europeia e o Conselho Europeu.
Noutro prisma, conhecemos a tendência, nomeadamente em Portugal, dos partidos políticos procurarem abordar a longo das campanhas temas de índole inerentemente nacional, procurando catapultar os resultados eleitorais do próprio partido para as eleições nacionais seguintes. Por fim, nem sempre há uma total compreensão do comportamento dos partidos políticos. O meu objetivo passa, precisamente, por aqui. Ajudar o leitor e o cidadão interessado a compreender um pouco melhor os partidos, na sua vertente da movimentação. Afinal, quais partidos abordam que temas?
Publicar este livro tem como objetivo ajudar a consolidar o entendimento que temos dos partidos políticos em momentos de campanha. Analisar as relações interpartidárias sob o prisma das eleições europeias por forma a promover uma melhor compreensão das dinâmicas das campanhas para estas mesmas eleições.
Como foi a organização dos capítulos?
Do ponto de vista estrutural, tendo este livro nascido de um trabalho académico, este seguiu, naturalmente, uma organização típica das dissertações/teses. Num primeiro momento, era, então, necessário esclarecer conceitos e dissertar sobre a realidade que temos e a investigação que já foi feita a esse respeito – ou seja, fazer um balanço da evolução e da atualidade da problemática que me propus analisar. De seguida, não poderia avançar sem antes elucidar o leitor da metodologia aplicada. O livro tem uma metodologia muito simples, sem particulares testes estatísticos como são tantas vezes comuns no ramo da Ciência Política. Feito isso, partilho com o leitor as hipóteses que considerei serem viáveis e exequíveis para tentar verificar se as mesmas, de factos, se confirmariam conforme eu poderia suspeitar. O passo seguinte, claro, passa por procurar testar as hipóteses que levanto, averiguando a sua veracidade (ou falta dela), de modo a prestar prova da realidade a que assistimos em relação à problemática do livro.
Portanto, diria que a organização dos capítulos se processou em três momentos: primeiro, explicar e dissertar sobre o problema; segundo, levantar possibilidades; terceiro, testar essas mesmas possibilidades, por forma a concluirmos, posteriormente, sobre a realidade testemunhada.
O tema do livro é muito específico, gostaria de saber se na sua opinião qualquer pessoa pode ler e entender essa obra?
O tema do livro é específico e contém linguagem técnica, sim. No entanto, penso que uma pessoa não formada na minha área poderá e conseguirá entender perfeitamente o conteúdo deste livro. Por todos os capítulos tenho a preocupação de elucidar o leitor dos significados e implicações de todo e qualquer conceito específico que utilizo que é determinante para o referido entendimento do livro e do seu conteúdo.
O objetivo, passando por ajudar a disseminar uma maior e melhor compreensão do comportamento dos partidos políticos ao longo das eleições europeias, só pode ser alcançado se o livro fornecer a possibilidade de qualquer pessoa o conseguir compreender. Este é um livro que, tendo nascido de um trabalho académico, tem o propósito de se destinar a todos, não apenas a quem está nas academias. Esta preocupação está, precisamente, na origem dos diversos espaços ao longo do livro em que adicionei conteúdo àquele que já tinha no âmbito do seu propósito académico.
Você já pensou em escrever outros livros? Quais os temas que gostaria de abordar?
Ler para um dia escrever sempre foi uma motivação e um objetivo. Ainda que este seja o meu primeiro livro, já algumas ideias ficaram por concretizar, livros que ficaram por escrever. Querer escrever e saber o que gostaria de abordar não basta. É preciso saber que temos o conhecimento suficientemente maturado e consolidado para que possamos acrescentar algo de valor com aquilo que escrevemos. Nas referias ideias anteriores, senti que ainda não estaria pronto para poder enveredar por uma escrita original e aprofundada. No entanto, à medida que vou evoluindo intelectualmente, novas ideias vão surgindo. É preciso maturá-las, refletir muito bem de forma sincera e verdadeira para perceber se, como e quando a colocar em prática. No entanto, confesso que gostaria de não me ficar por aqui. Gostaria que “Os Partidos Políticos nas Eleições Europeias” fosse apenas o meu primeiro livro, e não o meu livro.
Quanto ao que eu gostaria de escrever, penso que muito (mas mesmo muito) dificilmente poderei vir a optar por escrever algo na base da ficção. Não sei se tenho competências para ser um bom contador de histórias, tampouco tenho particular jeito para a poesia, por exemplo. No entanto, sei que gostaria de continuar a escrever livros relacionados com questões políticas. Esta é, de facto, a minha grande paixão. Neste âmbito, os partidos políticos são terreno muito fértil. Podemos considerar e analisar os partidos políticos por prismas muito diferentes, que podem levar a todo e qualquer subtema. Precisamente por serem organizações tão ricas, com tanta capacidade de organização e adaptação aos diferentes tempos que correram e aos que correm, penso que será uma possibilidade manter-me neste mesmo caminho. Também por isto procurei e procuro adquirir experiências académicas e profissionais diferentes e em vertentes diversificadas. Acredito que tal me poderá dar melhor perceção dos espaços mais indicados a explorar.
Na sua opinião os cidadãos do Portugal estão mais ou menos politizados que os cidadãos brasileiros?
Começo por uma observação da qual penso que maior das pessoas poderá vir a concordar: hoje em dia, os cidadãos brasileiros estão mais polarizados que os portugueses. A polarização acontece quando dois lados dominantes da competição se afastam progressivamente, colocando-se a si e aos seus eleitores, como cada vez mais antagónicos – e, possivelmente, o que me causa bastante alarme democrático, cada vez mais conflituantes, o que impede todo e qualquer impedimento entre as partes do conflito político. Tal é uma realidade e tem as suas inequívocas consequências para o processo democrático, assim como para a estabilidade nacional ao nível da implementação das políticas públicas. Aqui, ambos lados precisam de recorrer a táticas e estratégias de confronto e de populismo por forma a assegurar a mobilização dos seus eleitores e simpatizantes contra o outro lado, dividindo as fações entre os “bons” e os “maus”.
Isto é algo que nos deveria preocupar enquanto cidadãos e, especialmente, deveríamos ter a capacidade de dar um passo atrás, ponderar muito bem as circunstâncias e optar por ter uma conduta mais sensata e serena. As mais recentes presidenciais no Brasil demonstraram isso mesmo. Sem tecer qualquer comentário normativo aos dois principais candidatos e ao lado político que cada um representa, penso ser um mau sinal para a Democracia quando assistimos a ambos lados fomentarem este tipo de posições de conflito. Uma coisa é promover a competição democrática – condição essencial para a existência da própria Democracia; algo diferente e negativo é promover o conflito.
Em Portugal, não estamos tão polarizados. O facto dos dois maiores partidos nacionais – PS e PSD – não serem tão discrepantes entre si (quer do ponto de vista ideológico, quer do ponto de vista da estratégia comunicacional) ajuda a impedir essa polarização exacerbada que incentive, por sua vez, o conflito entre as partes.
A politização é, em si mesmo, um fenómeno diferente. O cidadão comum português não é particularmente politizado. Penso que esta politização poderá ter sido bem mais sentida no processo de consolidação democrática após 1974, em que os processos políticos ainda se estavam a desenhar e as próprias regras democráticas se estavam a consolidar. Ainda assim, rapidamente se percebeu que os portugueses voltariam a um estado de apatia política. Pouca participação eleitoral, pouco envolvimento com os partidos políticos e demais associações cívicas. Atualmente, as gerações mais jovens têm resgatado essa maior politização, ainda que tal se esteja a materializar em atitudes mais individuais e esporádicas para lá das organizações formais.
Posto isto, é um pouco difícil (pelo menos, para mim) oferecer uma resposta inequívoca quanto a tal comparação entre a politização dos cidadãos portugueses e brasileiros. Não obstante, penso que poderia afirmar que o cidadão brasileiro é, pelo acima descrito, mais politizado que o cidadão português. Tal não significa que há uma correlação causal entre a polarização e a politização. Ainda assim, a mais elevada polarização dos cidadãos brasileiros pode indicar que, neste momento, se encontram mais despertos do que os cidadãos portugueses.
Ao escrever sua tese recebeu apoio dos professores, colegas, amigos e familiares? Ou você se sentiu sozinho?
A escrita académica pode ser algo que solitária. Parte muito daquela que é a nossa capacidade pessoal para desenvolver um tópico, uma Questão de Investigação à qual nos queremos propor a dar resposta e, claro, à nossa aptidão para desenhar uma forma que nos coloque, de facto, no caminho certo para chegarmos a essa desejada resposta.
Não obstante, recebi sempre apoio de quem me rodeava. Quer no espaço académico quer no espaço pessoal foram várias as pessoas com quem falei, partilhei experiências e troquei ideias. Este processo algo dinâmico é complementado com a referida escrita solitária. No primeiro momento recolhemos informações, aprendemos com as pessoas que se cruzam connosco nos mais diversos fóruns; no segundo momento organizamos o pensamento, estruturamos a forma escrita com que queremos apresentar aquelas ideias e damos início a essa fase de escrita. Naturalmente, não fui sempre absolutamente consistente. Há momentos em que as palavras se escapam e não conseguimos escrever exatamente o que queremos. Há outros momentos em que sabemos que, ainda que estejamos a escrever até num bom ritmo (e, portanto, não o queremos travar), sabemos que, mais tarde, teremos de regressar àqueles mesmos trechos com o intuito de os aprimorar. Por fim, há, simplesmente, momentos em que a escrita nos corre bem, em que o pensamento está perfeitamente alinhado com toda a estrutura planeada e em que as peças se vão encaixando. Em todos estes momentos, precisamos também de um espaço mais pessoal e algo mais fechado, por forma assegurarmos a nós próprios as condições necessárias para conseguir alcançar, com mais regularidade, aquele terceiro momento referido, em que tudo flui e nos sentimos satisfeitos com a nossa escrita.
Como adquirir o seu livro?
O meu livro pode ser adquirido em diversos sites, estando colocado à venda tanto em Portugal como no Brasil. Desde logo, no Brasil, encorajo a sua compra através do website da Livraria Atlântico (https://www.livrariaatlantico.com.br/pd-940c9d-os-partidos-politicos-nas-eleicoes-europeias-filipe-s-fernandes.html?ct=&p=1&s=1). Além do mais, a sua versão ebook pode ser encontrada na Livraria Cultura (https://www3.livrariacultura.com.br/os-partidos-politicos-nas-eleicoes-europeias-893163593/p) e ainda na Rakuten Kobo (https://www.kobo.com/br/pt/ebook/os-partidos-politicos-nas-eleicoes-europeias). Já em Portugal, o livro está colocado à venda nas principais livrarias, como Fnac, Bertrand, Wook, entre vários outros.
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