Ela estava lá, perdida em pensamentos e ausente. Seus olhos navegavam à deriva em um mar que só ela conhecia. A fumaça do cigarro, esquecido entre os dedos, subiu até seu rosto e a fez piscar.
Ela era seu próprio universo.
Parei para olhá-la do outro lado do vidro, sorri para ela, ela sorriu de volta.
Novamente se retraiu.
Entrei no bar, aproximei-me de sua mesa e a cumprimentei. Com um gesto quase imperceptível, convidou-me a sentar. Fixou seu olhar em mim e disse:
-Obrigada por ter vindo, estou te esperando há muito tempo, precisava falar com você.
O mar pelo qual ela navegava tornou-se agitado, agarrou-se à minha orla e derramou a torrente, dizendo:
-Tudo está aqui, dentro de mim, em um lugar escondido ao qual não posso acessar para desenraizá-lo. É fertilizado com o tempo e dá frutos, que por sua vez criam sementes. Estas se reproduzem e crescem. Estou cheia de lembranças que quero esquecer, mas minha alma está desolada, é um buraco infinito de nostalgia e melancolia, um deserto indefeso, produto de uma mentira, que é minha única verdade desde então. Mas hoje, quando vejo você na minha frente, começo a acreditar que existem outras verdades que devo encontrar.
Com um brilho especial nos olhos, moveu sua cadeira, levantou-se e com passo firme e determinado dirigiu-se para a saída.
Eu nunca soube o nome dela, nem ela o meu.
Fomos náufrago e beira-mar.
Eu volto a esse bar com frequência, ela não está lá. Talvez ao retornar ao mar de seus sentimentos ela tenha encontrado seu caminho.
Eu ainda estou procurando o meu...
GRACIELA PUCCI es autora argentina residente en Buenos Aires, fundadora y directora de Literarte, revista de literatura y arte.
Imagem gerada pela IA do Bing |
Bela imagem para ótimo texto.
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