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Arvoricídio
Gisela Maria Bester
da janela eu vi
um a um
todos os teus braços sendo cortados
tudo porque tiveste a má sorte
de deixar uma pinha cair
sobre o carro de um bacana
e o dono do estabelecimento
mesmo sendo leve o estrago
em menos de uma semana
pegou pesado contigo
tendo sido tomado
por um licencioso alvará
para a fatal poda legitimar
eu, adoentada,
nada pude fazer
nem gritar nem nada
vendo o nada nascer
mas tu não estavas doente
somente eu e o dono do investimento
eu aqui cheguei há vinte anos
mas tu chegaste muito antes de mim
[e do homem
que em ti se empoleirou
jocoso e empoderado
com uma serra impiedosa
da copada centenária
em formato de aberta taça
sobrou só um sumido e afrontoso cume
desgraça
a quem ali tinha certa a morada
quando pude, fui contigo conversar
em sussurros, como sempre o fazíamos
oh, minha querida araucária,
e então contaste-me, vertendo seivas
amiúde, de tudo o que perdeste
e eu mais forte te abracei
e bem mais baixinho te falei
que fomos nós quem mais perdemos
mas agora isso o quê importa
e de que me adianta chorar
quando todo o resto é vazio e silêncio
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