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NATAL
No ventre da nova cidade
brincavam os sapos e as serpentes
cujas bocas malpassadas e rotas
lançavam injúrias e chispadas.
Dançavam com olhos de fogo
os sapos e as serpentes,
cuspiam nos olhos do céu
pedaços de fim de ano,
ano longo, ano louco
ano sem estribos, sem tributos,
ano arrastado, puxado a dentes
cortado à navalha sem fio
ano banhado em ácido sulfúrico
sulfetos e brometos de promessas
feitas em cima de um pano vermelho.
Nos braços da nova cidade
dormiam os anjos e os capetas
que foliaram o ano todo
e agora, sem fôlego, sem fígado
dormitam debruçando as cabeças
nos gordos seios da criadora.
De suas bocas respingam os sonhos
de um futuro promissor, sem céu cinza,
sem céu náusea, todo mármore.
Fim de festa, braços dormentes
bocas cansadas de abrir e fechar
em intermináveis trec trec.
Olhos pesados, apitos, pipos ao longe
sanfoninhas e cachoeiras cachentas
cheias de restos de todos os rostos.
Adeus! Adeus! Feliz! Feliz!
Enxurrada de catambas alegres.
Agora a grama está seca
ainda brincam os sapos e as serpentes de petas
ainda dormem os querubins e os duendes
e ainda gritam uns tantos outros:
Feliz! Felino! Um bom! Um nada!
Um tubo de estrelas minguantes
e longas conversas de bar e esquina,
quinas de mesas com longos pecados,
E agora? E agora?
Bem, só nos resta cobiçar o Ano Novo.
Roberto Betusko
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