Quando começou a interessar-se pelas Artes Plástica? Algum acontecimento especial despertou sua vocação?
Lembro-me de quando eu tinha nove ou dez anos, me inscrevi em um concurso de arte infantil intitulado “A Criança e a Caravela”, promovido pelo banco Português. Recebi menção honrosa e, naquele momento, me senti uma artista. Foi um momento tão marcante que até hoje consigo me lembrar do desenho que fiz pintado a lápis de cor. É evidente que não foi somente por esse motivo, mas houve, já no ato da inscrição, um despertar para a vocação que mais tarde eu desenvolveria.
Quais são as fontes de inspiração para suas obras?
São muitas, e elas se manifestam das mais diversas e inesperadas formas. No início da minha carreira, eu trabalhava o tema “floral”, talvez o mais marginalizado de todos os temas. Nunca entendi bem tal marginalização, porque, afinal, a flor é talvez o único símbolo presente tanto da dor quanto na alegria, tanto na morte quanto na vida.
Ainda que minhas flores não fossem muito claras, porque se incorporavam ao fundo da tela ou do papel, eu percebia certo preconceito por parte dos críticos de arte e de alguns galeristas. As pessoas de modo geral amavam esse trabalho, porém eu me sentia, em relação ao mercado de arte, como se dançasse fora do ritmo. Quando eu tinha por volta de sete ou oito anos, um fato muito significativo aconteceu e nunca esqueci, lembro-me de tudo em detalhes. Meu avô paterno foi velado em casa, como era de costume nas cidades do interior. Em vez de registrar somente a dor da perda, eu teatralizei o "drama" e ficava magnetizada pelas longas velas e pelas flores brancas, além dos lírios e dos copos de leite. O cheiro da cera misturado ao aroma dos lírios nunca foi para mim motivo de tristeza ou lembranças de perda, e sim a transfiguração da morte como um ritual da vida. Creio que essa tenha sido a inspiração remota para o trabalho que, mais adiante, desenvolvi as flores. Além disso, minha avó cultivava flores em canteiros e depois enchia os vasos da casa com flores perfumadas.
Anos depois, trabalhei com releituras de clássicos da pintura mundial: Rembrandt, da Vinci, Michelangelo, Velásquez e F. Goya... Foram trabalhos lindos, que resultaram em uma exposição chamada “Rembrando” (Adoro inventar palavras essa é uma mistura de: "lembrando Rembrandt"). No entanto, não demorou para que eu me desse conta de que aquele tema era distante demais e não fazia o menor sentido pra mim, a não ser como um aprendizado artístico que me levaria a novos rumos.
Então pensei: mas onde, como e quando surgiram as Artes Visuais aqui no Rio Grande do Sul? Pesquisando, cheguei ao fascinante período dos “Sete Povos das Missões”. Passei, então, a trabalhar com este tema, que resultou em uma série chamada “Cartografia Missioneira”. Logo após, entrei num período que eu reconheci como uma espécie de "limbo": como artista, eu sentia que o tema estava se esgotando, mas nada de novo acontecia.
Em períodos como esse, é comum que eu fique muito tempo sem pintar. E quando eventualmente pinto, surgem algumas abstrações sem muito sentido.
Quando fui convidada para fazer uma exposição no MARGS (Museu de Arte Rio Grande do Sul), aceitei, mas aterrorizada devido ao fato de não ter um único bom trabalho para um evento tão importante. Tinha pouco menos de um ano pela frente e sequer uma inspiração que me mobilizasse. Continuei meus estudos costumeiros sobre papel, entretanto nada de bom acontecia. Uma noite, mexendo em uma "Gaveta dos Guardados" (parafraseando o título de um livro de Iberê Camargo) encontrei quatro desenhos meus feitos aos quatro anos de idade, que minha mãe havia guardado. Fiquei maravilhada, extasiada diante daquela relíquia. Tive a impressão, diante daqueles desenhos, de que tudo de que eu precisava estava ali: havia casinhas, árvores, a lua, o sol, a criança, um bicho, uma flor, uma escada enorme que saía da casa, chuva, cores, alusões a paisagens, etc.
A capacidade de síntese e completude daqueles desenhos infantis me arrebataram completamente. De repente, fui invadida por uma avalanche de vontade e inspiração. Trabalhei dia e noite e sentia que ressurgiam a criatividade, as cores e as formas.
Ali nascia o tema que passei a desenvolver e no qual estou ainda trabalhando.
Minha exposição no MARGS, que ocupou três salas, foi resultado, talvez, do meu melhor momento. O nome da mostra foi dado pelo curador e crítico de arte Paulo Gomes: "Possíveis Paisagens".
Atualmente, estou trabalhando um tema que intitulei "Somos todos Alices", um trabalho Pop-Art baseado em “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. As ideias de nonsense e curiosidade aliadas à força das imagens me deram um novo e prazeroso trabalho, ainda dentro do universo colorido e vigoroso da criança e da paisagem.
Além da pintura, trabalho com gravuras e ilustrações. Há também a fotografia, que é uma espécie de hobby profissional. Ao fotografar, sinto-me como se fosse uma “catadora” de imagens (quem sabe uma “pintógrafa” outra palavra que inventei), porque me aproprio de formas abstratas e coloridas que estão nas superfícies do ferro, da madeira, da alvenaria, onde a ação do tempo e o abandono fizeram seu trabalho, trazendo à tona cores impossíveis de se ver em superfícies novas.
Minha última mostra individual foi de fotografias, na Galeria Tina Zappoli, e a chamei de “A Ferro E Flor” porque me dei conta que a ação do tempo é implacável tanto no ferro quanto na flor.
Tem preferência por alguma cor ou padrão de cores? Fale sobre sua técnica e como é o processo de criação.
Gosto muito das cores terciárias, isto é, cores mais pálidas: os cinza-azulados e os quase pretos com tons de terra, além do branco de todas as cores. Hoje muitas pessoas reconhecem meu trabalho pelas cores e texturas.
Houve um período em que minha pintura era muito escura, talvez por influência do meu mestre Iberê Camargo, de quem fui aluna e assistente dele por alguns anos. Já o trabalho pop “Alices” é muito colorido. Trata-se, talvez, do meu primeiro grande momento com a paleta cheia de cores primárias e secundárias – sem dúvida um novo prazer e um grande desafio.
Qual o tema que mais lhe agrada expressar em suas obras? Qual a mensagem de suas obras, que tipo de ideia ou sentimento você deseja transmitir com seu trabalho?
É difícil para um artista definir a mensagem e o sentimento que ele pretende expressar por meio de suas obras. O pintor, via de regra, não pensa nisso quando está criando e pintando. Eu, por exemplo, penso apenas em um processo que seja capaz de resultar em algo bom. O que importa mesmo, para mim, são a cor e a forma. O conteúdo final e sentimental fica por conta de quem vê a obra e tem um sentimento próprio em relação a ela. Creio que este seja o verdadeiro poder transformador da arte.
Em relação a isso, um fato curioso aconteceu esta semana. Recebi um e-mail de um senhor americano que está com a intenção de adquirir uma pintura minha, da série “Alice”, que ele viu exposta em uma Galeria de Miami. Este cliente perguntou, em tradução livre, o seguinte: "Oi, Lou. Nós recentemente vimos sua pintura “Alice's Tears” (“Lágrimas de Alice”) em Miami. Você poderia nos contar a história por trás dessa obra? Nós estamos pensando em comprá-la e adoraríamos saber mais sobre ela”.
Percebe-se aqui o encontro do sentimento de ambos os lados: o meu, enquanto responsável pela produção da obra; e o dele, querendo compreender melhor a pintura que lhe despertou o interesse. Respondi: “O que me encanta em Alice é a curiosidade, a ousadia e o enfrentamento do susto e do medo. A profusão de conteúdos formais, a dinâmica das cores e O título “Alice"s Tears” se referem ao momento do livro em que ela diz: "Chorei tanto que minha lágrimas se transformaram em um rio. Agora vou nadar no meu rio de lágrimas." Esta história é atemporal e se destina a todas as idades. “Alice no país das maravilhas” nos mostra que não só a história, uma história ficcional pode ser “nonsense”, mas a vida também o é: muitas vezes, as coisas parecem não ter um sentido claro, mas, no fundo, têm muito mais sentido do que supomos.”
Fale um pouco sobre seu estilo e influências. Cite os nomes dos artistas que mais admira.
É bem difícil definir meu estilo atualmente, uma vez que existem tantas novas "escolas", mas ainda aposto no Expressionismo. Quanto às influências, eu diria que, no Brasil, Iberê Camargo, Volpi, Siron Franco, Mira Schendel, Daniel Senise foram talvez os que mais me influenciaram. Entre os estrangeiros, eu não poderia deixar de citar Anselm Kiefer, Robert Rauschemberg, Antoni Tàpies, Yuri Kuper, e Basquiat. Haveria, certamente, muitos outros que, por diferentes vias e em diferentes momentos, influenciaram minha produção em momentos variados. No entanto, creio que tenham sido esses os principais.
A vida de um artista não é feita só de realizações, mas também de sonhos e projetos. Quais são os projetos para 2016?
Sonhar é preciso, pois nos traz esperança e alegria. Embora não tenha ainda pensado muito no ano de 2016, agrada-me a ideia de visitar a Grécia ou de conhecer o Japão e ver de perto a cultura e a arte atual da Terra do Sol Nascente. Gostaria muito de visitar o atelier de Anselm Kiefer, na França, e vê-lo trabalhando em suas espetaculares e gigantes pinturas “uau” isso sim seria o máximo.
Estou preparando uma nova exposição e quero, como sempre, seguir me dedicando ao trabalho de pintora e de orientadora dos alunos e artistas que buscam o Atelier Lou Borghetti. Aliás, este é um dos meus grandes prazeres: adoro meu atelier cheio de alunos! Lá trabalhamos, mas também nos divertimos muito; afinal, não podemos esquecer o viés lúdico da arte.
Costumo ir de uma a duas vezes ao ano a Washington DC, onde trabalho com uma galeria que me representa e na qual já fiz duas exposições. Estou começando também com uma galeria em Miami.
Gostaria de encerrar com um trecho de um texto que a grande escritora e amiga Lya Luft escreveu especialmente para esta artista e seu atelier: “O trabalho de Borghetti é uma celebração daquilo que apesar de tudo persiste e é belo, que se desmonta e se recupera incessantemente, como nas transformações da natureza. É uma trama lúcida e onírica onde rótulos e explicações se tornam supérfluos. Pois Lou é também meio bruxa, disso nunca duvidei. Um pouco de mim permanece naquele ateliê muito depois de eu ter saído: essa obra nos mostra humanos e transcendentes, perdidos mas recuperados, e sempre inconclusos. Como a vida, a arte nunca está terminada.” (Publicado no Jornal Zero Hora em 19/04/2003).
Elizethe Borghetti (Lou Borghetti)
Quais são as fontes de inspiração para suas obras?
São muitas, e elas se manifestam das mais diversas e inesperadas formas. No início da minha carreira, eu trabalhava o tema “floral”, talvez o mais marginalizado de todos os temas. Nunca entendi bem tal marginalização, porque, afinal, a flor é talvez o único símbolo presente tanto da dor quanto na alegria, tanto na morte quanto na vida.
Ainda que minhas flores não fossem muito claras, porque se incorporavam ao fundo da tela ou do papel, eu percebia certo preconceito por parte dos críticos de arte e de alguns galeristas. As pessoas de modo geral amavam esse trabalho, porém eu me sentia, em relação ao mercado de arte, como se dançasse fora do ritmo. Quando eu tinha por volta de sete ou oito anos, um fato muito significativo aconteceu e nunca esqueci, lembro-me de tudo em detalhes. Meu avô paterno foi velado em casa, como era de costume nas cidades do interior. Em vez de registrar somente a dor da perda, eu teatralizei o "drama" e ficava magnetizada pelas longas velas e pelas flores brancas, além dos lírios e dos copos de leite. O cheiro da cera misturado ao aroma dos lírios nunca foi para mim motivo de tristeza ou lembranças de perda, e sim a transfiguração da morte como um ritual da vida. Creio que essa tenha sido a inspiração remota para o trabalho que, mais adiante, desenvolvi as flores. Além disso, minha avó cultivava flores em canteiros e depois enchia os vasos da casa com flores perfumadas.
Anos depois, trabalhei com releituras de clássicos da pintura mundial: Rembrandt, da Vinci, Michelangelo, Velásquez e F. Goya... Foram trabalhos lindos, que resultaram em uma exposição chamada “Rembrando” (Adoro inventar palavras essa é uma mistura de: "lembrando Rembrandt"). No entanto, não demorou para que eu me desse conta de que aquele tema era distante demais e não fazia o menor sentido pra mim, a não ser como um aprendizado artístico que me levaria a novos rumos.
Então pensei: mas onde, como e quando surgiram as Artes Visuais aqui no Rio Grande do Sul? Pesquisando, cheguei ao fascinante período dos “Sete Povos das Missões”. Passei, então, a trabalhar com este tema, que resultou em uma série chamada “Cartografia Missioneira”. Logo após, entrei num período que eu reconheci como uma espécie de "limbo": como artista, eu sentia que o tema estava se esgotando, mas nada de novo acontecia.
Em períodos como esse, é comum que eu fique muito tempo sem pintar. E quando eventualmente pinto, surgem algumas abstrações sem muito sentido.
Quando fui convidada para fazer uma exposição no MARGS (Museu de Arte Rio Grande do Sul), aceitei, mas aterrorizada devido ao fato de não ter um único bom trabalho para um evento tão importante. Tinha pouco menos de um ano pela frente e sequer uma inspiração que me mobilizasse. Continuei meus estudos costumeiros sobre papel, entretanto nada de bom acontecia. Uma noite, mexendo em uma "Gaveta dos Guardados" (parafraseando o título de um livro de Iberê Camargo) encontrei quatro desenhos meus feitos aos quatro anos de idade, que minha mãe havia guardado. Fiquei maravilhada, extasiada diante daquela relíquia. Tive a impressão, diante daqueles desenhos, de que tudo de que eu precisava estava ali: havia casinhas, árvores, a lua, o sol, a criança, um bicho, uma flor, uma escada enorme que saía da casa, chuva, cores, alusões a paisagens, etc.
A capacidade de síntese e completude daqueles desenhos infantis me arrebataram completamente. De repente, fui invadida por uma avalanche de vontade e inspiração. Trabalhei dia e noite e sentia que ressurgiam a criatividade, as cores e as formas.
Ali nascia o tema que passei a desenvolver e no qual estou ainda trabalhando.
Minha exposição no MARGS, que ocupou três salas, foi resultado, talvez, do meu melhor momento. O nome da mostra foi dado pelo curador e crítico de arte Paulo Gomes: "Possíveis Paisagens".
Atualmente, estou trabalhando um tema que intitulei "Somos todos Alices", um trabalho Pop-Art baseado em “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. As ideias de nonsense e curiosidade aliadas à força das imagens me deram um novo e prazeroso trabalho, ainda dentro do universo colorido e vigoroso da criança e da paisagem.
Além da pintura, trabalho com gravuras e ilustrações. Há também a fotografia, que é uma espécie de hobby profissional. Ao fotografar, sinto-me como se fosse uma “catadora” de imagens (quem sabe uma “pintógrafa” outra palavra que inventei), porque me aproprio de formas abstratas e coloridas que estão nas superfícies do ferro, da madeira, da alvenaria, onde a ação do tempo e o abandono fizeram seu trabalho, trazendo à tona cores impossíveis de se ver em superfícies novas.
Minha última mostra individual foi de fotografias, na Galeria Tina Zappoli, e a chamei de “A Ferro E Flor” porque me dei conta que a ação do tempo é implacável tanto no ferro quanto na flor.
Tem preferência por alguma cor ou padrão de cores? Fale sobre sua técnica e como é o processo de criação.
Gosto muito das cores terciárias, isto é, cores mais pálidas: os cinza-azulados e os quase pretos com tons de terra, além do branco de todas as cores. Hoje muitas pessoas reconhecem meu trabalho pelas cores e texturas.
Houve um período em que minha pintura era muito escura, talvez por influência do meu mestre Iberê Camargo, de quem fui aluna e assistente dele por alguns anos. Já o trabalho pop “Alices” é muito colorido. Trata-se, talvez, do meu primeiro grande momento com a paleta cheia de cores primárias e secundárias – sem dúvida um novo prazer e um grande desafio.
Qual o tema que mais lhe agrada expressar em suas obras? Qual a mensagem de suas obras, que tipo de ideia ou sentimento você deseja transmitir com seu trabalho?
É difícil para um artista definir a mensagem e o sentimento que ele pretende expressar por meio de suas obras. O pintor, via de regra, não pensa nisso quando está criando e pintando. Eu, por exemplo, penso apenas em um processo que seja capaz de resultar em algo bom. O que importa mesmo, para mim, são a cor e a forma. O conteúdo final e sentimental fica por conta de quem vê a obra e tem um sentimento próprio em relação a ela. Creio que este seja o verdadeiro poder transformador da arte.
Em relação a isso, um fato curioso aconteceu esta semana. Recebi um e-mail de um senhor americano que está com a intenção de adquirir uma pintura minha, da série “Alice”, que ele viu exposta em uma Galeria de Miami. Este cliente perguntou, em tradução livre, o seguinte: "Oi, Lou. Nós recentemente vimos sua pintura “Alice's Tears” (“Lágrimas de Alice”) em Miami. Você poderia nos contar a história por trás dessa obra? Nós estamos pensando em comprá-la e adoraríamos saber mais sobre ela”.
Percebe-se aqui o encontro do sentimento de ambos os lados: o meu, enquanto responsável pela produção da obra; e o dele, querendo compreender melhor a pintura que lhe despertou o interesse. Respondi: “O que me encanta em Alice é a curiosidade, a ousadia e o enfrentamento do susto e do medo. A profusão de conteúdos formais, a dinâmica das cores e O título “Alice"s Tears” se referem ao momento do livro em que ela diz: "Chorei tanto que minha lágrimas se transformaram em um rio. Agora vou nadar no meu rio de lágrimas." Esta história é atemporal e se destina a todas as idades. “Alice no país das maravilhas” nos mostra que não só a história, uma história ficcional pode ser “nonsense”, mas a vida também o é: muitas vezes, as coisas parecem não ter um sentido claro, mas, no fundo, têm muito mais sentido do que supomos.”
Fale um pouco sobre seu estilo e influências. Cite os nomes dos artistas que mais admira.
É bem difícil definir meu estilo atualmente, uma vez que existem tantas novas "escolas", mas ainda aposto no Expressionismo. Quanto às influências, eu diria que, no Brasil, Iberê Camargo, Volpi, Siron Franco, Mira Schendel, Daniel Senise foram talvez os que mais me influenciaram. Entre os estrangeiros, eu não poderia deixar de citar Anselm Kiefer, Robert Rauschemberg, Antoni Tàpies, Yuri Kuper, e Basquiat. Haveria, certamente, muitos outros que, por diferentes vias e em diferentes momentos, influenciaram minha produção em momentos variados. No entanto, creio que tenham sido esses os principais.
A vida de um artista não é feita só de realizações, mas também de sonhos e projetos. Quais são os projetos para 2016?
Sonhar é preciso, pois nos traz esperança e alegria. Embora não tenha ainda pensado muito no ano de 2016, agrada-me a ideia de visitar a Grécia ou de conhecer o Japão e ver de perto a cultura e a arte atual da Terra do Sol Nascente. Gostaria muito de visitar o atelier de Anselm Kiefer, na França, e vê-lo trabalhando em suas espetaculares e gigantes pinturas “uau” isso sim seria o máximo.
Estou preparando uma nova exposição e quero, como sempre, seguir me dedicando ao trabalho de pintora e de orientadora dos alunos e artistas que buscam o Atelier Lou Borghetti. Aliás, este é um dos meus grandes prazeres: adoro meu atelier cheio de alunos! Lá trabalhamos, mas também nos divertimos muito; afinal, não podemos esquecer o viés lúdico da arte.
Costumo ir de uma a duas vezes ao ano a Washington DC, onde trabalho com uma galeria que me representa e na qual já fiz duas exposições. Estou começando também com uma galeria em Miami.
Gostaria de encerrar com um trecho de um texto que a grande escritora e amiga Lya Luft escreveu especialmente para esta artista e seu atelier: “O trabalho de Borghetti é uma celebração daquilo que apesar de tudo persiste e é belo, que se desmonta e se recupera incessantemente, como nas transformações da natureza. É uma trama lúcida e onírica onde rótulos e explicações se tornam supérfluos. Pois Lou é também meio bruxa, disso nunca duvidei. Um pouco de mim permanece naquele ateliê muito depois de eu ter saído: essa obra nos mostra humanos e transcendentes, perdidos mas recuperados, e sempre inconclusos. Como a vida, a arte nunca está terminada.” (Publicado no Jornal Zero Hora em 19/04/2003).
Elizethe Borghetti (Lou Borghetti)
Estudou com Danúbio Gonçalves, , Renina Katz, Katie Van Sherpenberg e Plínio Bernhardt. Frequentou o Atelier Livre da Prefeitura Municipal entre 1973 e 1980, onde estudou entalhe com Anestor Tavares, escultura com Claudio Martins Costa, desenho e litografia com Danúbio Gonçalves, Teoria da Arte e aquarela com Fayga Ostrower. Frequentou, como aluna e assistente, o atelier de Iberê Camargo e a oficina de Marco Túlio Resende em Belo Horizonte. Realizou workshop de aquarela na Universidade de Belas Artes de Sevilha e Florença.
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